quinta-feira, maio 6

Tríade

Ficou meio irritada quando bateram à porta e olhou com desânimo para o monte de papéis e livros esparramados sobre a mesa. Eu tinha pedido que ninguém incomodasse, pensou. Olhou pela janela indecisa. Mas quando bateram pela segunda vez ela suspirou fundo e disse numa voz seca:

- Entre.

De imediato, uma figura sorridente além do comum entrou no escritório com um ar de sucesso. Era o seu filho, vice-diretor do local, Elborn, que não mediu palavras para contar a novidade.

Susan Cornew, que tinha passado as tardes dos últimos dois meses montando o espetáculo perfeito, porém sem uma data certa para acontecer, agora tinha o desafio de terminá-lo em apenas cinco meses, o que também representava o momento perfeito para mostrar ao mundo que a Broadway Dance Center continuava a ser a melhor academia de dança do planeta, e que ela, Susan Cornew, seguindo a tradição da família, era a diretora que proporcionava tal mérito à academia.

Cinco meses! Pouco mais de cento e cinquenta dias! Será que posso fazer isso? Era só o que passava na mente de Su. Se quiser terminar o meu projeto a tempo tenho que sair do papel e partir para a ação, pensava para encorajar a si mesma.

Susan era médium, havia lido sobre o assunto há algum tempo e se interessado bastante. Sentiu um enorme interesse em saber sobre sua vida passada. E foi o que fez.

Cornew, após muito estudo sobre a doutrina espírita e frequantar centros espíritas, estava apta a usar de sua mediunidade, com segurança, para possíveis descobertas sobre os fatos que tronariam aquele sonho de espetáculo perfeito em realidade.

Os dias que se seguiram foram difíceis e cansativos. Susan passava boa parte do tempo se comunicando com seu mentor para desvendar sua vida passada, afinal, este era o tema do grande espetáculo.

Além d eter que dar aulas de dança e participar das reuniões da Broadway, também voltou a frequantar as aulas com o intúito de fazer uma pequena participação no espetáculo, ou talvez apenas para lhe dar inspiração e força.

Só quase um mês após o recebimento da notícia de que a Broadway D.C. abriria o grande evento Oscar, que foi dado início aos preparativos, o que foi marcado com uma bela festa entre toda a equipe que faria parte daquela apresentação; tudo isso porque a diretora só havia concluído o roteiro sobre a sua vida passada na tarde anterior.

Figurinistas desenhavam roupas que davam tanto efeito no palco que chegavam a ser esquipáticas, um grupo de sonoplastas se preocupava com cada detalhe das músicas, os coreógrafis procuravam os mais apropriados passos para encaixar nas coreografias, os bailarinos se esforçavam ao máximo para dar o melhor de si. Tudo estava impecável.

O espetáculo se chamava Tríade e relatava, como a equipe ja sabia, a vida passada de Su, descoberta por ela mesma através do seu mentor.

Após muito suor e dedicação por parte de todos, o espetáculo estava prontíssimo, mesmo porque a abertura do Oscar seria na semana seguinte.

Não demorou para que o grande dia chegasse e, com ele, uma indescritível ansiedade causada, boa parte, pela responsabilidade do evento.

Tríade estava saindo perfeitamente bem, porém nos últimos instantes, quando as cortinas estavam prestes a serem fechadas, alguma coisa colocou uma expressão de espanto nas faces à platéia. Susan Cornew, carregada por um casal de espíritos, surgiu no palco, acompanhada por uma música ao mesmo tempo suave e complexa que, definitivamente, não vinha das caixas de som. Seguiram os três com uma dança que representava, de forma clara, algo que o Tríade não tinha retratado: o motivo pelo qual Su tinha falecidono passado, também conhecido como a parte mais difícil da antiga vida dela, o que foi um verdadeiro misto, pois foi o momento em que a diretora havia sido mais feliz e, ao mesmo tempo, mais triste.

De acordo com a coreografia, Susan e os dois espíritos, a verdadeira tríade do amor, de onde foi tirado o nome do espetáculo, haviam passado momentos difíceis lutando pelo amor que sentiam uns pelos outros, este que não era aceito pela sociedade. Por piores que fossem as ameaças e agressões, por mais que as pessoas tentassem separá-los, às vezes com sucesso, os três foram persistentes e assumiram o que sentiam num evento público de grande importância da época, passando a viver como qualquer outra pessoa casada. O triângulo amorosofoi prerseguido durante algum tempo, até serem pegos e condenados à morte, porém, de acordo com as leis da época, deveriam primeiro realizar uma tarefa ordenada pelo rei.

Dois dias após a ordem do rei, toda a cidade angustiada na platéia, a tríade pronta para a sua dança de morte naquele palco pálido. Os soldados do rei matariam os três ao fim da dança que o rei havia ordenado, a qual era muito cativante, onde os passos pareciam falar. Os soldados estavam ansiosos para executar seu trabalho, entretanto, antes mesmo da dança terminar, algo fez com que toda a platéia ficasse boquiaberta e, com um beijo, a tríade desapareceu bem na frente daquelas centenas de pessoas, nunca mais aparecendo.

Na Tríade, o desfecho da coreografia não foi diferente, Susan e os espíritos desapareceram para sempre no ato de um beijo. A platéia ficou em pleno silêncio por ao menos dez minutos, quando todos começaram a vibrar em aplausos, copiando um feito do filho da melhor diretora da melhor academia de dança do mundo, Susan Cornew.


 27/02/2007

12 comentários:

  1. O ato do silêncio, à espera das reações, que grandiosidade!

    Falta silêncio no Mundo, uma vez que o silêncio é o tempo em que chega - se ao ponto de consciência.

    Às vezes, a resposta não é a esperada. Mas, é franca!

    se quiser e puder:

    http://memoriaspsicodelicas.blogspot.com

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  2. Parabéns pela história.

    Só uma coisa, a cor do fundo mais a cor da letra dificulta a leitura.



    www.communiquebr.blogspot.com
    \Twitter: www.twitter.com/communiquebr
    A fórmula da informação

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  3. Parabens e boa sorte nessa jornada!

    www.blogdomarcolinoo.blogspot.com

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  4. Gostei do conto!
    Realmente, o fundo cansa a leitura, mas continue desenvolvendo.

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  5. Uau!
    História de arrepiar e muito inspiradora, também.

    Fico a imaginar esses passos...a plateia atônita, sem saber o real significado e como os passos estão sendo realizados.

    Algo que só quem conhece o espiritismo pode explicar.

    Parabéns!

    abs,
    seuanonimo.blogspot.com

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  6. Provavelmente foi por issso que a platéia ficou tão espantada de início, chegando até a ficar 10min em silencio. Mas depois pensaram, ora, é a Broadway!rs

    Acho que a cor da fonte permite ler perfeitamente o texto. Talvez a vista de todos não seja tão boa quanto a minha, mas isso já não é comigo.rsrs
    Ou talvez seja só preguiça de pensar o que comentar ;) fikdik

    Marcela e Fernando, isso sim são comentários, muito bom.

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  7. um blog mto bom! gosto mto d literatura!

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  8. seu blog é muito interessante,começando pelo nome que foi muito criativo.

    Mas apenas como sugestão, melhore um pouco o layout dele,um texto claro com um fundo claro é meio dificil de ler pra algumas pessoas

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  9. Obrigada (ou não, rs) pelos comentairos.
    Eu gosto do meu layout ;)
    E chequei antes se iria prejudicar a leitura.
    Absolutamente não faz diferença.
    É apenas mais uma vez preguiça d eler e comentar direito.

    sem mais comentários ^^

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