terça-feira, março 9

Vejo toda a minha vida passar como num filme...

Terça-feira, dezessete de Abril. Não sei por quanto tempo mais posso aguentar essa situação. A dor das tonturas já se confunde com a saudade dos entes queridos e com o medo do instante seguinte.
não sei mais o que fazer, muito menos de onde tirar forças para aguentar tanto sofrimento.
Bons tempos aqueles em que estava com toda a minha família reunida. Todos estávamos felizes em nossa viagem a Paris. havia muitas luzes, muita beleza em todo canto para onde se olhava. As famílias sorridentes, relembravam momentos de alegria enquanto se deliciavam com petiscos de suas graciosas cestas de pique-nique. Até a grama era mais verde, um verde úmido, fresco, que representava bem aquela tarde de outono. O céu se abria num sorriso de sete cores qe terminava num lindo pote de ouro.E foi exatamente ali, naquele cenário de filme de Hollywood, quando a brisa silenciosa batia nas folhas verde-amarronzadas do parque da cidade. Bem ali, naquele domingo de sol, - um sol nem tão fraco que desse a impressão de a madrugada ainda estar presente, nem tão forte que se tornasse desagradável - ali onde flores de mil cores desabrochavam ao mesmo tempo em que esbanjavam exuberância em meio a toda a alegria daquela gente, que a minha felicidade teve seu drástico fim.
estávamos eu e a minha família num momento único de alegria. Nos divertíamos no parque quando, de repente, não via mais nada, mas podia ouvir. ouvia passos apressados e sussuros maléficos, sentia mãos em volta de mim, pouco antes de sentir uma grande dor, seguida de um enorme barulho de motor. foi quando resolvi gritar. Gritei desesperadamente sem saber o que se passava. Sóqueria que alguém fosse me ajudar, queria ouvir vozes conhecidas afirmando estar tudo bem. Mas não foi bem isso o que aconteceu. De fato alguém ouviu meus gritos desesperados e me mostrou o que realmente estava acontecendo, entretanto, percebi que talvez preferisse não saber.
Lembro de sentir algo batendo em minha cabeça, algo duro e pequeno que depois identifiquei como uma arma. Em seguida, uma voz masculina seca e rouca disse ao meu ouvido: "vai ser melhor pra todo mundo se você se comportar". Isso fez cmque uma quentura estranha tomasse conta do meu corpo, me fazendo suar frio. Comecei a tremer, um clarão tomou conta dos meus olhos, meu coração começava a sair do corpo, enfim, desmaiei.
Custou muito para que eu acordasse, e só o fiz porque foi colocado um pano velho com muito álcool extremamente junto ao meu nariz.
Assim que abri os olhos, pude entender exatamente o que estava se passando.
Me encontrava numa espécie de quarto com luz escassa, sujo e velho. Parecia mais um porão, é isso, um porão! Um porão no qual me encontro até agora, numa infelicidade mórbida. Um porão úmido e malcheiroso, empesteado de ratos dentre outros animais asqueirosos.
Desde o momento em que abri os meus olhos neste local, percebi a situação periclitante em que estava.
Os dias foram se passando e nada mudou, com exceção da luz no fim do túnel, que se tornava, a cada dia, mais longe.
Os malfeitores responsáveis pelo meu sequestro se revezavam para ir ao porão me alimentar e, é claro, me torturar. Eles eram quatro, sendo que uma era mulher. E cada um tinha seu próprio jeito de se divertir às minhas custas.
O primeiro, o chefe, vinha ao porão com pouquíssima frequência, fazia apenas quando queria me torturar. Trazia sempre consigo um canivete extremamente afiado e um pote com pimenta. Largava a comida em um canto do porão, me fazia tirar a roupa lentamente e transar com ele. A cada ordem que eu não obecedia ou que eu hesitava em obedecer, o chefe fazia cortes em mim e colocava um punhado de pimenta em cima deles. Também não permitia que eu derramasse ao menos uma lágrima. Sempre que eu o fazia, ele colocava um pouco de pimenta nos meus olhos. Se eu gritasse demais, ele as colocava em minha boca.
O segundo, um homem com muitos múscuos e uma altura d ese invejar, sempre que trazia o meu prao de comida, trazia também uma vontade imensa de me bater, o que sempre dava um jeito de justificar. Por vezes me obrigava a jogar xadrez ou poker com ele. Caso eu ganhasse, me batia com raiva até cansar. Se eu perdesse, me batia como prenda. Logo, o que eu tentava ao máximo fazer era retardar o jogo. Mas eu não podia fazê-lo para sempre. Outras vezes ele me obrigava a ficar calada enquanto ele falava coisas terríveis que faria comigo e minha família e, qualquer barulhoque eu fizesse, ele me batia, chutava, empurrava, jogava, mordia... Certa vez até quebrou o meu dedo.
A terceira - a mulher de quem eu havia falado - era tão ruim quanto os homens. Me fazia beijá-la e acariciá-la. Colocava drogas na minha comida e me fazia fumar três massos de cigarro no mesmo dia. Vinha ao porão com frequência e estava sempre embreagada e com várias garrafas de conhaque, as quais me obrigava a "virar" com ela. Obrigava-me a dançar para ela enquanto ela caía bêbada pelo chão enlameado do porão.
O último era um tanto quanto idiota e, ainda assim, não deixava de me torturar. Ligava para a minha família ameaçando-a sem deixar que eu falasse, apenas ouvisse. colocava pedaços de vidro na minha comida e puxava o meu cabelo enquanto eu comia.
Ainda não entendi o motivo pelo qual a gangue me sequestrou. Aliás, a única coisa que sei agora é que não tenho mais como viver dessa maneira. Hoje, após ingerir o meu prato de comida, fumar 3 massos de cigarro e me embreagar de conhaque, cheguei a uma conclusão sensaa.
Hoje, sexta-feira, treze de Novembro. meus sentidos estão um pouco distantes. A cada segundo respirar se torna mais difícil, minha visão está um pouco embassada. Posso ver a faca que se confunde com o meu pulso esquerdo, mas não posso mais sentí-la. Ouço gritos de desespero se aproximando. Agora posso ver vultos dos quatro componentes da gangue paralizados na entrada do porão ensanguentado voltados fixamente para o meu pulso. Ratos e baratas invadem o meu corpo sem que eu possa sentí-los. Já não vejo mais nada, tudo está escuro agora. Uma sensação estranha toma conta do meu corpo. Não consigo parar de vomitar. Meus ouvidos não mais exercem a sua função. Estou quase pegando fogo de tanta quentura. De repente, vejo toda a minha vida passar como num filme.

4 comentários:

  1. Meu Deus! Apavorante! Mas muito bem escrita..

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  2. Que texto foi esse! Confesso que o tamanho me assustou no começo, mas agora... Nossa!
    Valeu muito a pena ler tudo!

    Você conseguiu com que eu ficasse profundamente envolvido com a personagem! E o titulo... Nossa, ela se encaixa perfeitamente com o texto no fim!

    Muito bom!

    http://papeisriscados.blogspot.com/
    .
    o/

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  3. Você conseguiu prender a minha atenção do começo ao fim! Está muito bom o texto, apesar de ser apavorante e agoniante... O nível de detalhes é incrível! O seu blog, faço questão de seguir!

    Abraços!

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  4. Meu Deus que texto é esse???
    Mto interessante e terrível ao mesmo tempo.
    Isso sim é um enredo perfeito para um filme de drama.
    MASSA!

    http://minhadiarreiaverbal.blogspot.com/

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