sexta-feira, outubro 30

A N N A B E L E


Tinha os olhos negros como a noite, na graça do seu sorriso trazia mistérios que nem o mais belo luar podia revelar. Seu sorriso brilhava mais do que dez sóis. Os cachos do seu cabelo cor de mel nunca antes desvendados, a sua tez alva, mas não tão fria como flocos de neve, as maçãs do rosto meio rosadas. Mais bonita não havia, nem mais desejada. Annabele, porém, nunca antes se interessou por alguém.
Seu amor maior, Marta, mãe e melhor amiga, era por quem Annabele fazia questão de dedicar a sua vida. Nunca houve aquele que tivesse uma reclamação da garota, principalmente quando se tratava da relação com a mãe. Era o amor mais bnito que já havia existido. Sem uma briga se quer, sem uma discursão; lágrimas, apenas de felicidade.
Bele era a mais bonita, a mais inteligente, a mais amiga... era melhor em tudo, mas nunca se esforçava para isso, apenas era e pronto. Também não se gabava de tantos dotes, os possuía e era algo normal para ela.
Anna nunca fizera nada de errado, nada que não deveria fazer e, ainda assim, era ela quem mais se divertia e saía mais feliz em qualquer situação. Era um orgulho tê-la como amiga ou parente, um privilégio tê-la por perto.
Mas não era por nenhum desses motivos que as pessoas a desejavam, não. Era algo nela, algo que ataía as pessoas. Talvez a forma de andar, ou de falar, ou mesmo aquele sorriso sempre estampado no rosto. Não se sabe. Mas todos que, por algum momento, pairaram o olhar sobre a linda Bele não mais a tiravam da cabeça, era como uma imagem eterna, uma forma de feitiço.
E ninguém queria mal a enigmática garota, ninguém a desejava mal ou invejava, apenas a tinham como ídolo, apenas a queriam para si, queriam a bonequinha de porcelana que nunca se quebrava.
O câncer da sua mãe diminuía as esperanças de vida a cada dia e a menina coninuava forte, ao mesmo tempo, sensível. O seu maior amor estava a morrer; contudo ficava cada vez mais vivo. Nada era mais forte do que aquela paixão por Marta. E quanto mais o câncer ficava irreversível, mais o amor entre mãe e filha crescia e mais as pessoas desejavam a boneca de porcelana.
Quando a doença chegou definitivamente ao seu auge, Marta morreu, numa manhã de quarta-feira, enquanto Annabela beijava a sua face pálida. E no momento em que os doces lábios da menina não mais tocaram o rosto frio da sua mãe, a sua porcelana quebrou. E esse foi o beijo de amor mais puro e verdadeiro.
A menina que viveu de amor, morreu de amor e o mundo que já girava, continuou com a sua rota.


[18/03/2008]

Nenhum comentário:

Postar um comentário